Em entrevista exclusiva, a musa do axé da Bahia fala sobre o clipe "Banzeiro", que reúne drags, trans, atores e crianças ao som da música da paraense Dona Onete. "A arte aproxima as pessoas e diminuiu a intolerância".
O batuque e a energia do Pará são a aposta de Daniela Mercury para o hit do carnaval 2018. A cantora baiana, um dos maiores talentos do axé nacional, acaba de lançar clipe de uma música da paraense Dona Onete, a “rainha do carimbó chamegado” que, aos 78 anos, tem viajado pelo Brasil e por diversas cidades do mundo animando plateias com os ritmos da Amazônia. “Banzeiro faz todo mundo dançar! É irresistível!”, diz a artista de Salvador. Assista o clipe aqui.
O vídeo é uma superprodução. Foram 40 dias de trabalho, em que foram produzidos 205 figurinos, dezenas de objetos, joias, móveis. Apostando no colorido e na diversidade, o clipe reúne um elenco formado por 99 artistas, entre bailarinos, modelos, drags, crianças, atores e até uma cachorra, e celebra diversos ritmos do Brasil, com dança afro, balé clássico, carimbó, lambada, frevo, street dance, hip hop e até sarrada no ar.
A regravação de “Banzeiro” fez Daniela Mercury “mergulhar no projeto”: ela fez direção criativa, direção dos figurinos e direção de coreografias do clipe. Em entrevista exclusiva ao G1, a artista baiana fala com entusiasmo sobre Dona Onete, a aposta em “Banzeiro” para o carnaval e sobre a importância de dar visibilidade a toda forma de amor. “Quando o diálogo é difícil na sociedade precisamos de música e festas populares para aproximar as pessoas e diminuir a intolerância entre diferentes grupos sociais”. Confira:
1. Como você conheceu o trabalho de Dona Onete?
Em março de 2015, meu filho Gabriel, que é músico e produtor, me mandou um presente de Dona Onete: a música “No Sabor do Beijo”. Eu amei e pesquisei sobre Dona Onete. Achei ela e suas canções geniais, quis gravar, mas estava finalizando meu álbum autoral, “Vinil Virtual”. Um ano depois, Gabriel me mandou “Banzeiro” e “Tipiti” e eu me apaixonei por Banzeiro. E eu já queria muito gravar uma marchinha leve com uma letra divertida e que tivesse uma mensagem irônica. Banzeiro é isso. O Brasil está mesmo um Banzeiro!
2. Uma mulher de quase oitenta anos criar músicas cheias de energia, que esquentam o público, como você observa esse talento de Dona Onete?
Ela sempre foi artista, mas é raro ter essa coragem e energia com quase 80 anos, é muito bom! Ela tem a energia e alegria de uma menina. Ela é muito carismática como cantora e como compositora. A idade também é mais uma originalidade dela. E é ótimo quebrar tabus. Não há idade pra fazer sucesso!
Resolveu apostar na arte um pouco mais tarde quando a vida lhe deu oportunidade. Fico felicíssima de ela estar sendo reconhecida e estar se divertindo com os shows.
3. Você é um dos grandes fenômenos do axé e da música brasileira. O que a fez apostar nessa música de Dona Onete?
Banzeiro é irresistível! A inocência, a alegria, a originalidade do vocabulário, o humor e o tom irônico da letra, o resgate da marchinha misturada com o frevo e o galope que são ritmos nordestinos e muito presentes em meu trabalho me fizeram amar Banzeiro.
4. O clipe mostra várias pessoas dançando e celebrando. E não fica de fora também essa questão de gênero. Qual a importância de dar visibilidade para os LGBTs nesse momento que vivemos no Brasil?
É um momento muito oportuno pra valorizar artistas trans e as drags e mostrar o talento de tantos excelentes artistas que tem tido pouca visibilidade. A diversidade sexual sempre esteve presente na arte, mas agora é um momento bom pra naturalizar a diversidade sexual na vida real e trazer pra luz quem estava escondido. A arte é uma maneira ótima de quebrar preconceito. Convidei grandes talentos, como: Romário, bailarino clássico, que dança com sapatilhas de ponta, quando ele se monta sua persona artística é Isabela. O bailarino e ator Igor Costa que se desmonta no clipe e montado é Yanna. Tiago, o garoto que vestiu o biquíni, o bailarino e coreógrafo de Stiletto, Elivan Nascimento, Arismar Júnior e vários bailarinos e atores da Cia Baiana de Patifaria que são gays.
É hora de trazer esses talentos para o palco principal e usar todo o poder da arte na luta por direitos iguais. Precisamos tirar a transexualidade da lista de doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS), isso tem gerado muita violência e sofrimento para milhões de pessoas no mundo.
5. A letra de Banzeiro fala muito do Pará, de elementos da região e com gírias locais. Ainda assim, você acredita que a música comunique com o Brasil todo?
Adoro essa letra, que gera uma comunicação pouco óbvia. As palavras próprias de Belém dão riqueza à música. Trazem originalidade e subjetividade a obra. Banzeiro tem uma linguagem livre. A letra, pra quem não entende o sentido, é metáfora pura. Adoro isso!
6. Para você, Banzeiro pode ser o novo hit do carnaval 2018? Qual a mensagem principal para o carnaval do ano que vem que você gostaria de antecipar?
A mensagem é direta no coração e no corpo: alegria cura. Aprendi com a nossa ancestralidade africana que a festa ameniza as tensões sociais. Quando o diálogo é difícil na sociedade precisamos de música e festas populares para aproximar as pessoas e diminuir a intolerância entre diferentes grupos sociais. Banzeiro faz todo mundo dançar.
Acredito na arte pra unir o Brasil. O carnaval faz esse papel. Banzeiro, Samba Presidente e Eletro Ben Dodô trazem nossas raízes musicais e culturais e a arte e a cultura nos fortalece individual e coletivamente, nos une, nos aproxima. Axé!
Portal do Oeste News.
G1 Pará.
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